“A gente não trabalha por número de horas, mas por tarefas”
a condução de uma carreira acadêmica em um mundo de certificações e garantias
DOI:
https://doi.org/10.59901/fmyve386Palavras-chave:
Carreira acadêmica, Avaliação, MoralidadesResumo
Neste artigo, analiso como o movimento normatizador da avaliação da produção científica empreendido pelo Estado brasileiro, nas últimas décadas, reflete novas configurações do capitalismo e suas formas de gerenciamento do trabalho. Através da expansão de agentes mensuradores e padronizadores da produção científica, avaliações de desempenho com o signo de “gestão eficiente” foram sendo adotadas e ressignificadas localmente, refletindo-se em novas maneiras de construção e avaliação de carreiras científicas. Essas reflexões foram suscitadas a partir de pesquisa etnográfica desenvolvida para minha tese de doutoramento, na qual tomo bolsas "premiadoras da produtividade" como lugar privilegiado para examinar gramáticas de valor mobilizadas por pesquisadores fluminenses contemplados com esses financiamentos para definir como os pares devem construir suas carreiras e como devem ser avaliados. Ao pensar o Estado enquanto distribuidor de recursos e reputação, analiso de que modos dispositivos avaliativos, reguladores de práticas e éticas profissionais, são apropriados e (re)significados por esses atores enquanto avaliadores e avaliados.
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