Missionários, crianças, hienas
a questão do infanticídio no Quênia
Palavras-chave:
Teoria da justificação; Sociologia da crítica; Infanticídio; Quênia; KikuyuResumo
Tomando como tema o debate em torno do infanticídio no Quênia entre 1902 e 1963 e analisando os argumentos empregados pelos atores nele envolvidos em relação às suas próprias ações e para criticar as ações de outrem, coloco em debate alguns dos alcances e limites da teoria da justificação tal como proposta por Boltanski e Thévenot (1991) e Boltanski (2002). Dito de outro modo, pretendo, neste artigo, fazer uma discussão tendo por base as justificações utilizadas por missionários católicos e nativos Kikuyu no debate em torno da proibição do infanticídio no Quênia, no período entre os anos de 1902 e1963, tomando as justificações empregadas pelos próprios atores em relação às suas ações ou para criticar as ações de outrem. Isso traria, segundo Boltanski (2002), a possibilidade de se atentar às motivações morais invocadas pelas pessoas sem resvalar pelas análises que as consideram como racionalizações que escondem algo geralmente inconsciente. Este procedimento implica a realização de um empreendimento metodológico específico, já que a ideia de seguir as justificações dos atores estaria ancorada no suposto de dar às análises e críticas realizadas pelas pessoas comuns o mesmo estatuto que aquelas realizadas por sociólogos profissionais.