O uivo do silêncio em Vidas Secas:
Um registro nem sempre verbal do poder de enunciação das margens
Palavras-chave:
Minorias silenciadas, Poder de Enunciação, Vidas SecasResumo
Este trabalho visa a destacar a importância que Graciliano Ramos imprime à falta de capacidade do nordestino indigente, flagelado da seca nordestina (enquanto arquétipo das minorias silenciadas), de falar por si mesmo e reivindicar seus direitos enquanto cidadão. O autor deposita no silêncio das personagens uma carga semântica que joga com o seu processo de humanização/animalização, dotando-as de um sistema de linguagem rudimentar, composto basicamente por monossílabos e onomatopeias, enquanto ironicamente contribui para a humanização da cachorra Baleia, numa concorrência entre espécies em que o homem demonstra estar aquém da capacidade de percepção e de defesa da cadela. Sua antropomorfização a desenha com sensações humanas, o que se evidencia por diversos aspectos: pela influência do espaço, do meio social, pelas condições de vida e pelo tempo, sobretudo o psicológico – que marcam suas características humanas –, como também pela fala dos sertanejos. A linguagem do romance, direta e seca como a natureza do sertão, serve de pano de fundo para o realce dos registros linguísticos dos retirantes, sintetizados pela incapacidade de comunicação das personagens. Elas se comunicam por meio de ruídos e frases incoerentes, uma vez que não conseguem articular frases lógicas e conexas. Com base nos estudos de Castro (2000), Orlandi (2007; 2012), Ramos (2009), Coggiola (2009) e Spivak (2010), dentre outros, procuramos entender no texto de Graciliano o sentido das formas do silêncio, explorando aquela falta de elocução que atravessa as palavras das personagens e desemboca nas atitudes do animal, levando-nos a
perceber que o silêncio é “fundante” e, como tal, é muito mais eloquente do que possa parecer.