Ser, estar e escrever
o papel do etnógrafo e a etnografia “das margens”
Palabras clave:
Etnografia, Margens, Criação, ÉticaResumen
As dimensões teórica e política do trabalho etnográfico se exprimem desde a escolha das categorias empregadas para falar do campo – “margens”, “totemismo”, “histeria”, por exemplo – até os meios pelos quais se estabelecem, no campo, as relações entre o etnógrafo e seus interlocutores. Situados em um mundo de qualidades onde a idade, a cor, a língua, a voz, o nome, o comportamento ou o gênero, por exemplo, ganham maior ou menor importância na determinação das trocas entretidas, “etnógrafo” e “nativo” atualizam ou subvertem mutuamente as regras do campo empírico que os fundam enquanto sujeitos. O fato de estar cria, portanto, uma determinada realidade e potencialidades do ponto de vista daqueles que interagem no campo, franqueando-lhes o estabelecimento de uma ética e, com ela, de uma nova ótica sobre si mesmos. A “realidade etnográfica”, tal como abordada nesse artigo, é portanto criativa. E é esta sua qualidade que enuncia a dimensão política do trabalho etnográfico. Por sua própria condição – por ser uma prática –, a etnografia também se inscreve nesse “sistema de revezamentos” (FOUCAULT & DELEUZE, 1972) que situa as relações em um campo social e empírico problematizado, por sua vez, na própria pesquisa. No caso desta, esse campo chama-se “margem”. Borrar as fronteiras que criam margens é uma possibilidade da pesquisa etnográfica que pode definir tanto o papel do etnógrafo quanto a importância ético-política do seu exercício.