Tecendo corporeidades e destecendo o cartesianismo
sobre conhecimento, política e corpo na Universidade
DOI:
https://doi.org/10.59901/2318-373X/v23n1a5Palavras-chave:
Ações afirmativas, Corporeidade, Pensamento corporalResumo
Neste artigo abordo o tema da reativação do corpo como espaço de política e conhecimento. Ao colocar ênfase no pensamento corporal podemos desfazer o feitiço cartesiano que criou o corpo-máquina e o isolou da dimensão estético-política para que funcionasse como peça de produção. Esta abordagem se faz necessária nos dias atuais, quando, através das políticas de ação afirmativa ingressam na universidade indígenas, quilombolas, pessoas negras e periféricas, trazendo consigo seus “corpos pensantes”. Sua chegada é uma grande oportunidade para esta se abrir para epistemologias e ontologias diferentes do cartesianismo que ainda reina. A diretriz epistemológica do saber acadêmico é ainda aquela eurocêntrica que vem das transformações ocorridas na fundação da sociedade moderna, a qual foi sistematizada pela filosofia de Descartes. Esta tem como seu eixo principal esvaziar o corpo de sua potência através de uma verdadeira guerra contra os saberes corporais. A existência a partir da mente isolando a corporeidade como saber e como força política. Tratarei o tema através de conceitos como “pensamento praticado”, “entrecorporalidade” e “lógica do sensível”, e também da abordagem de experiências artísticas contemporâneas que colocam estética, conhecimento e política em interação, vivenciando o corpo como lugar do assentamento do pensamento e da criação.
Referências
ARNOLD, Denise e ESPEJO, Elvira. (2013). O tecido tridimensional: a naturalidade do tejido como objeto e como sujeito. La Paz: Fundação Interamericana / Fundação Xavier Albó/Instituto de Língua e Cultura Aymara.
BOAL, Augusto. (2009). A estética do oprimido. Rio de Janeiro: Garamond.
CLASTRES, Pierre. (2003). A sociedade contra o Estado. São Paulo: Cosac Naify.
COLLET, C. (2001). Quero progresso sendo índio. Dissertação de mestrado em Antropologia Social - PPGAS/Museu Nacional, Rio de Janeiro.
COLLET, C. (2006). Ritos de civilização e cultura: a escola bakairi. Tese de doutorado, PPGAS/Museu Nacional, 2006.
COLLET, C. (2022). Da interculturalidade à intercorporalidade (ou como aprendermos a lidar com a predação do mapinguari e do lobo-aristote para podermos “sonhar outros sonhos”). Redobra. n. 16, ano 7, p. 305-333.
COLLET, C. Paladino, M. RUSSO, Kelly. (2013). Quebrando preconceitos: subsídios para o ensino das culturas e histórias dos povos indígenas. Rio de Janeiro: Contra Capa Livraria / Laced.
FEDERICI. Silvia. (2017). Calibã e a bruxa: mulheres, corpo e acumulação primitiva. São Paulo: elefante.
FREIRE, Ana. (2017). Angel Vianna — da expressão corporal aos jogos corporais e a conscientização do movimento na dança contemporânea. Salvador: Repertório, ano 21, n. 31, p. 214-235.
GIL, José. Abrir o Corpo. (2001). In: FONSECA, Tânia.; ENGELMAN, Selma. (orgs). Corpo, Arte e Clinica. Porto Alegre: Ed UFRGS.
INGOLD, Tim. (2011). Estar vivo: ensaios sobre movimento, conhecimento e descrição. Petrópolis: Vozes.
KASTRUP, Virgínia. (2007). A invenção de si e do mundo. Belo Horizonte: Autêntica.
LAGROU, Els. (2007). A fluidez da forma: arte, alteridade e agência em uma sociedade amazônica (Kaxinawa, Acre). Rio de Janeiro: Topbooks.
LAGROU, Els. (2011). Existiria uma arte das sociedades contra o Estado? Revista de Antropologia, v. 54, n. 2, p.747-777.
LÉVI-STRAUSS, Claude. (1989). O pensamento selvagem. Campinas: Papirus.
LOPES DA SILVA, Araci. (2002). Crianças indígenas: ensaios antropológicos. São Paulo, Global.
MCCALLUM, Cecília. (1998). O corpo que sabe: da epistemologia Kaxinauá a uma antropologia médica da América do Sul. In: ALVES, Paulo; RABELO; Miriam (orgs.). Antropologia da saúde: perspectivas e interface. Rio de Janeiro: Fiocruz.
MAGNANI, Claudia; GOMES, Ana; MAXAKALI, Sueli; MAXAKALI, Maisa. (2020). Panela de barro, água de batata, linhas de embaúba: práticas xamânicas das mulheres maxacali. São Paulo: Cadernos de Campo. V.29, n.1, p. 262-281.
MANCHINERI et al. (2018). Atualizar o mito: práticas indígenas na universidade. Rio Branco: Nepan Editora.
MATTOS, Amilton. (2005). O que se ouve entre a opy e a escola? Corpos e vozes da ritualidade guarani. Dissertação de mestrado - PPGE/USP, São Paulo.
MAUSS, Marcel. (2003). Sociologia e Antropologia. (trad. Paulo Neves) São Paulo: Cosac & Naify.
OVERING, Joanna. (1999). Elogio do cotidiano: a confiança e a arte da vida social em uma comunidade amazônica. Rio de Janeiro: Revista Mana 5 (1): 81-107.
SANTOS, Antônio Bispo. (2015). Colonização, quilombos, modos e significados. Brasília: UnB.
SANTOS, Bárbara. (2016). Teatro do Oprimido: raízes e asas, uma teoria da práxis. Rio de Janeiro: Ibis Libris.
SEEGER, Anthony; DA MATTA, Roberto; VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. (1979). A construção da pessoa nas sociedades indígenas brasileiras. Rio de Janeiro: Boletim do Museu Nacional, Série Antropologia, n. 32, p. 2-19.
SIMAS, Luis; RUFINO, Luis. (2018). Fogo no mato: a ciência encantada das macumbas. Rio de Janeiro: Morula.
STENGERS, Isabelle. (2017). Et après ? De quoi notre héritage nous rend-il capables ? In: BIRNBAUM, Jean. (org.). Hériter, et après? Paris: Gallimard.
STENGERS, Isabelle. PIGNARRE, Philippe. (2017) La brujeria capitalista. Buenos aAires: Hekht lLibros.
TEIXEIRA, Letícia. (2008). Inscrito em meu corpo: uma abordagem reflexiva do trabalho corporal proposto por Angel Vianna. Dissertação de mestrado - PPGT/Unirio, Rio de janeiro.
VIVEIROS DE CASTRO, Eduardo. (S/d) Sobre os modos de existência dos coletivos extramodernos: Bruno Latour e as cosmopolíticas ameríndias. Projeto de Pesquisa. Disponível em: https://www.academia.edu/21559561/Sobre_o_modo_de_existencia_dos_coletivos_extramodernos. Acesso em: 18 de julho de 2024.
WAGNER, Roy. (2009). A invenção da cultura. São Paulo: Cosac Naify.