O problema com Marx e sua influência na esquerda
cristianismo humano-social sem transcendência pessoal
Palavras-chave:
Marx, Cristianismo, Essência humana genéricaResumo
A doutrina filosófico-crítica de Marx pode ser entendida como uma combinação de três camadas de pensamento: 1) um interessante, ainda embrionário, materialismo prático, secularizado, moderno, que demanda reconstrução e desenvolvimento em nossos dias, em diálogo com aquisições da filosofia prática contemporânea; 2) um materialismo histórico-dialético basicamente esquemático, dualista, determinista, cripto-normativo, com todo o jeito de filosofia idealista da história, do qual sua crítica do capitalismo é o capítulo decisivo — um materialismo substancialista que poderia ter sido uma melhor conversão materialista de Hegel para fora do idealismo e da metafísica; 3) um humanismo especulativo, do ser-genérico, que assume a crítica feuerbachiana do cristianismo como seu pressuposto/fundamento normativo forte, junto como o próprio cristianismo feuerbachianamente traduzido, e que toma como medida e telos histórico justamente a plena realização daquele nosso pleno ser genérico. É esse humanismo que, para desespero dos que obscuramente entreveem um pouco do seu absurdo, como Althusser e sua turma, nunca é abandonado por Marx e pelas sucessivas "teorias críticas" tradicionais e renovadas, explícita ou disfarçadamente derivadas dele, e que é estruturalmente consolidado por nosso filósofo comunista na sua crítica da economia política, como “determinação pelo nível essencial”, o da produção, para Marx completamente social, embora mascarado por trás de uma “aparência real” onde liberdade e particularidade individuais são na verdade uma ilusão estrutural. Aqui nos ocuparemos principalmente do ponto três.
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