A produção racializada do espaço urbano e do “problema da segurança pública”
uma análise a partir do estado do Espírito Santo
DOI:
https://doi.org/10.59901/2318-373X/v24n8Palavras-chave:
Criminalização da pobreza, Territorialização seletiva, Violência estatalResumo
Este artigo tem como objetivo problematizar os processos de produção e consolidação de sentidos em torno das práticas de gestão da ordem pública vigentes no contexto observado e seu caráter sócio-histórico pactuado. Objetiva-se demonstrar, a partir de um caso exemplar entre os possíveis, o caráter colonialista com que os problemas urbanos atuais são definidos e ao mesmo tempo reforçados pela própria intervenção estatal. Apontando para o caráter racializado da produção das cidades em países de origem colonial, analisamos a arena pública de definição do problema da (in)segurança pública no Estado do Espírito Santo, em que se destacam três aspectos: (a) a definição do problema público em si; (b) a definição do seu marco histórico de origem e da relação de causalidade fenomênica pressuposta por esse recorte, e (c) a análise do papel do Estado, ou sua atuação. Apontamos para os efeitos do colonialismo sobre uma gramática de justificação das modalidades de gestão do espaço público urbano em vigor, pautada em um regime de desumanização.
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