O estrangeiro e as margens da cidade
a presença de europeus nas favelas cariocas
Palavras-chave:
Favela, Estrangeiro, SegregaçãoResumo
O presente artigo tem como objetivo oferecer um olhar qualitativo sobre a presença de indivíduos oriundos de países europeus em determinadas favelas do Rio de Janeiro. Toma-se como caso de estudo a Vila Pereira da Silva, uma pequena “comunidade urbanizada” situada entre os bairros de Santa Teresa e Laranjeiras. Esse assentamento esteve, junto com outros, na vanguarda do processo de expansão das fronteiras do turismo em favelas, e conta até o momento com a presença de um número relativamente importante de residentes permanentes não brasileiros. Habitualmente denominados de “gringos” no Brasil, esses estrangeiros representam um exemplo de migração Norte-Sul, embora não costumem ser considerados como “imigrantes”. A pesquisa, baseada em uma abordagem socioetnográfica, constitui uma tentativa de questionar a relação indivíduo/território em um mundo globalizado, onde a circulação de pessoas, capitais e culturas é fluida e intensa. Contrariando expectativas, os sujeitos da presente pesquisa se estabelecem dentro de um espaço fortemente diferenciado. Receptáculos históricos dos “outsiders” produzidos pela sociedade pós-escravagista e pelo êxodo rural, as favelas foram deixadas à margem das dinâmicas do desenvolvimento urbano formal, continuando destarte marcadas por um profundo estigma. As narrativas elaboradas em torno da presença de certos estrangeiros em um espaço urbano fortemente marginalizado — tanto quanto os efeitos potenciais das suas presenças nesses territórios — são usadas aqui para destacar algumas questões significativas, na intersecção de conflitos simbólicos e sociais, que podem entrar em ressonância com a história nacional e algumas dinâmicas transescalares em curso.